terça-feira, dezembro 13, 2005


Alegre, o desajeitado

Homem de letras, Manuel Alegre é o candidato menos hábil no argumento sem guião: the man is not capable of thinking on his feet and shows no killer instinct.

Se não o estava já, tal ficou agora provado. Não vi o debate (ou a dupla entrevista - chamar debate a este formato tão carinhoso para com os candidatos menos aptos à réplica é pleonasmo) de ontem, entre Alegre e Louçã, pelo que dei uma leitura rápida pelos jornais on line em busca de um relato.

Encontrei no CM esta belezura de jornalismo, assinada por um senhor chamado Azenha: A propósito da eventual demissão de Alberto João Jardim, que Francisco Louçã prometera esta semana demitir se fosse eleito Presidente da República, Manuel Alegre afirmou, lembrando um alerta de Adriano Moreira para uma omissão na Constituição sobre esta matéria, que "quem é dissolvido não deveria voltar a candidatar-se, pelo menos durante um tempo". E Francisco Louçã contrapôs: "Ninguém pode ser inibido de se candidatar por causa da avaliação política do seu mandato". E essa "opinião [da inibição] é errada", rematou. Alegre acabou por condescender: "Admito que sim".

Lido isto, o observador fica com a ideia que Alegre propôs uma alteração absurda à Constituição e que acabou por conceder o seu erro perante a sapiência do adversário. Ora, vim entretanto a saber que o que aconteceu realmente foi que, à peregrina ideia do bloquista em dissolver a Assembleia Regional para demitir AJJ pelos seus acessos anti-democráticos, Alegre respondeu ser tal pouco eficaz a não ser que se alterasse a Constituição para impedir "o dissolvido" de poder voltar a candidatar-se de imediato. Ao que Louçã retorquiu que ninguém pode ser inibido de se candidatar por motivos de avaliação política e convidou Alegre a reconhecer o erro dessa possibilidade, que Alegre admitiu. Fica assim, na opinião menos atenta, et pour cause no senhor Azenha, que Alegre errou e que Louçã o encostou às cordas.

Ora, é Louçã que traz o absurdo para a mesa. Alegre deveria ter respondido incisivamente e até com algum humor… ó Francisco Louçã, mas quer dar ao AJJ mais uma oportunidade de se vitimizar e de obter uma maioria punitiva contra o perverso "contnente"? A sua ideia só poderia ter alguma eficácia se, após uma dissolução provocada pela necessidade de demitir um PM ou um PGR, este se não pudesse novamente candidatar, o que é inconstitucional. Ou seja, o meu caro adversário limita-se a arejar uma medida populista e pouco pensada, para eleitor ver, o que, infelizmente, lhe é muito habitual.

Mas Alegre é um desajeitado. Perante a tontice de Louçã, acaba por ficar ele com o ónus da patacoada. E se a capacidade de debate não é transcendente num PR, a imagem de segurança é pão para a boca do votante.